segunda-feira, 31 de março de 2008

...que se cumpre aos poucos

Desprende-se de mim esse gesto que se cumpre aos poucos. Feito tarde que se despede da luz, assim, num processo de anoitecer, morrendo tarde, nascendo noite, mudando de roupa, cobrindo-se de crepúsculos e estrelas.Desprende-se de mim esse gesto que se cumpre aos poucos. Forma serena de morrer vivendo, confundindo os verbos e os tempos, assim feito poema que se sacramenta na pele antes de se tornar palavra, alquimia que só os sofridos podem realizar.Desprende-se de mim esse gesto que se cumpre aos poucos. Amor amado que no calado coração adormeceu, virou ventura de ser silêncio em meio ao pó, feito criado que, ao lado da cama, espera chegar o dia em que deixará de ser mudo.Desprende-se de mim esse gesto que se cumpre aos poucos. Adornado encalço que, em meio a flores, denuncia o crime, passagem noturna de um poeta errante, embriagado de palavras tontas, turvas rotas do sentimento humano.Desprende-se de mim esse gesto que se cumpre aos poucos. Esse existir sentido, cotidiano, sem feriados, acomodando-se em calendários, em que a história resolveu ser números, antes de ser passado.Desprende-se de mim esse gesto que se cumpre aos poucos. Esse poema de adeus que a Deus pertence, essa reunião de palavras que ao céu reclama, essa agonia literária que se descreve o gozo do poeta de ser gesto e palavra ao mesmo tempo.Desprende-se de mim esse gesto que se cumpre aos poucos. Esse gesto que realizo aos poucos, de chegar ao fim de meu poema.

Do Livro: MELO, Fábio de. Tempo: saudades e esquecimento - o cotidiano como lugar de revelação.
São Paulo: Paulinas, 2003. p.126

domingo, 30 de março de 2008

Filhos da Páscoa

Da esperança, a dor; o sentido oculto que move os pés; o desejo incontido de ver as estradas se transformando, aos poucos, em chegadas rebordadas de alegrias. Ir; um ir sem tréguas, senão as poucas pausas dos descansos virtuosos que nos devolvem a nós mesmos. Idas que não findam e que não esgotam os destinos a serem desbravados. Passagens; páscoas e deslocamentos.Eu vou. Vou sempre porque não sei ficar. Vou na mesma mística que envolveu os meus pais na fé, os antepassados que viram antes de mim. Vou envolvido pela morfologia da esperança; este lugar simples, prometido por Deus, e que os escritores sagrados chamam de Terra Prometida. Eu quero. O lugar sugere saciedade e descanso. Sugere ausência de correntes e cativeiros...Ainda que o caminho seja longo, dele não desisto. Insisto na visão antecipada de seus vislumbres para que o mar não me assuste na hora da travessia. Aquele que sabe antecipar o sabor da vitória, pela força de seu muito querer, certamente terá mais facilidade de enfrentar o momento da luta. O povo marchava nutrido pela promessa. A terra seria linda. Nela não haveria escravidão. Poderiam desembrulhar as suas cítaras; poderiam cantar os seus cantos; poderiam declamar os seus poemas. A terra prometida seria o lugar da liberdade...Mas antes dela, o processo. Deus não poderia contradizer a ordem da vida. Uma flor só chega a ser flor depois que viveu o duro processo de morrer para suas antigas condições. O novo nasce é da morte. Caso contrário Deus estaria privando o seu povo de aprender a beleza do significado da páscoa. Nenhuma passagem pode ser sem esforço. É no muito penar que alcançamos o outro lado do rio; o outro lado do mar...E assim o foi. O desatino das inseguranças não fez barreira às esperanças de quem ia. O mar vermelho não foi capaz de amedrontar os desejantes da Terra, os filhos da promessa. Pés enxutos e corações molhados, homens e mulheres deitaram suas trouxas no chão; choraram o doce choro da vitória, e construíram de forma bela e convincente o significado do que hoje também celebramos. A vida cresceu generosa. O significado também. Ainda hoje somos homens e mulheres de passagens; somos filhos da Páscoa.Os mares existem; os cativeiros também. As ameaças são inúmeras. Mas haverá sempre uma esperança a nos dominar; um sentido oculto que não nos deixa parar; uma terra prometida que nos motiva dizer: Eu não vou desistir!E assim seguimos. Juntos. Mesmo que não estejamos na mira dos olhos. O importante é saber, que em algum lugar deste grande mar de ameaças, de alguma forma estamos em travessia...

por pe. fábio de melo

fonte: www.fabiodemelo.com.br

segunda-feira, 24 de março de 2008

Sabor do Espírito Santo



“Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas idéias frívolas. Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à prática apaixonada de toda espécie de impureza. Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que o ouvistes e dele aprendestes, como convém à verdade em Jesus. Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4, 17-24).

O tempo do Espírito é o tempo da Igreja. O tempo da Igreja é o tempo de criar a estrada que nos leva a plenitude daquilo que já nos foi revelado. Enquanto Cristo está com os discípulos Ele é o responsável por essa propriedade, Ele é o cumprimento da promessa que o povo esperava: a terra que corre leite e mel, o lugar do nosso descanso, onde podemos reclinar a nossa cabeça. O lugar demarcado para o encontro é também paraíso. Esse texto fala da Igreja, mas não é discurso para multidão, ele nos atinge em particular.
“Não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas idéias frívolas”. Esse texto nos abre olhos que a partir do momento que nos entregamos a Deus não podemos viver como pagão. Nós podemos muitas vezes achar que estamos seguindo Jesus e estarmos como telespectadores.


Nossa inteligência muitas vezes não nos leva a nada, refletimos, mas agimos como pagão. Nossa inteligência não age a nosso favor cada vez que optamos pela vida sem sabor, fazendo uma opção burra, pois a vida passa rápida e desperdiçamos o tempo. Uma vida no Espírito Santo é uma vida de sabor, de alegria e que sempre tem espaço para a luta. Aquilo que mais te faz feliz é aquilo que você precisou lutar muito, aquilo que vem muito fácil não tem muito sabor. Viver como pagão é você dizer que não tem sabor.
A vida pagã vai retirando de nós toda disposição para qualquer coisa. Jesus era um homem que reinaugurava as pessoas todos os dias. Você precisa descobrir que rotina você precisa colocar um tempero todo dia. Assim como precisamos do pão nosso de cada dia precisamos do sabor de cada dia.
Se você comer arroz, feijão e couve todos os dias você enjoa, precisamos mudar o sabor. Por isso não podemos viver como pagão. Ninguém agüenta religião por obrigação, precisa ter sabor. A força do Espírito Santo coloca em nós a alegria de que vale a pena seguir os passos de Jesus. Cristianismo é também dever, mas se você mergulhar nele você verá que ele tem mais sabor do que qualquer outra coisa.
Não podemos associar que a vida em Deus é só sofrimento, não! Ela tem sabor, pois você vê Deus mudando sua forma de ver o mundo, Deus está tentando por sabor na sua vida. Deus amplia seu olhar para o mundo para que você não seja vítima de olhar as coisas com o olho torto com uma visão preconceituosa. Imagina se Jesus olhasse o povo com uma visão preconceituosa, ninguém teria uma chance com Ele. Nossa visão muitas vezes é preconceituosa porque é sem sabor.
A coisa mais pesada que tem é a gente colecionar preconceito. Ele fecha a porta para muitos acontecimentos em nossa vida. Essa visão pagã está dentro de nós. E conversão é isso, é abertura da nossa mente para vermos as coisas com mais inteligência. Um coração endurecido é um coração ignorante.
Qual a primeira ação do Espírito em nós? Libertar-nos da ignorância. Ele retira de nós o endurecimento do coração e tudo que nos impede de crescer. O principal ato de ignorância é quando a gente não sabe e finge que sabe. Precisamos reconhecer que não sabemos. Sair da ignorância é muito difícil. A gente prefere ensinar que aprender. Para sair da ignorância é preciso ter calma. O processo de Deus e do Espírito Santo é lento dentro de nós, dura a vida inteira.
Como você supera o medo? Eu nunca vi uma pessoa que tem mais medo de defunto do que eu? E eu tenho que ir nos velórios, sou padre. Não encosto em nada em ninguém, fico agoniado. São traumas que ficam no inconsciente. Pois quando eu era pequeno escutava várias estórias sobre defunto antes de dormir, então cresci com medo de defuntos. O Espírito Santo é quem nos modifica de todas essas coisas que em nós precisa ser mais saudável.
Deus te faz um homem livre cada vez que você permite que o Espírito Santo te leve a casa sua. É preciso que tomemos posse. A promessa que o Espírito Santo faz a Igreja é: “eu farei novas todas as coisas”. Por isso precisamos sempre acolher a graça que nos cabe. Nós vamos chegar àquilo que temos de mais sagrado quando nossos olhos estiverem pregados na sedução de Jesus. Mas se seu olhar estiver pregado na sedução do demônio você se transformará num ser humano desprezível, mesquinho. Mas olhando para Jesus você poderá proclamar desde já a vitória em Jesus, a propriedade é sua, toma posse quando quiser.

por:







Amar...

Só tem saudade quem já amou, que de fato já passou pela vida, e não passam pela vida aquele que não deixou que a vida passasse por ela, pode parecer um jogo de palavras.

Só ama de verdade, as pessoas que não deixam a vida passar por elas. A fonte de todo desejo é ser desejado e o desejo está intimamente ligado ao encontro e o que desejamos na vida, o que significa encontro?Encontrar é antes de qualquer coisa encontrar luzes, quantas oportunidades você já teve para estar com Deus, é impossível descobrir o tesouro sem encontrar as luzes. Cada vez que amamos, ficamos eternos e vamos atrás de quem nos olha com olhar de eternidade.Subir na árvore é fácil, difícil sim é descer da árvore e encarar todos as tribulações do dia a dia.

terça-feira, 11 de março de 2008

Ser padre...


Quero ser Padre assim: com a minha vida correndo sangue. Não quero ser alguém que não sente, que não chora... não quero ter respostas prontas, um Padre que sabe tudo! Quero ser só o Padre que luta o tempo todo para fazer Jesus acontecer em mim e nas pessoas que me encontram!... A gente se apaixona um pelo outro quando somos olhados... e foi por isso que me apaixonei por Jesus!! Costumo dizer que mulher nenhuma me olhou do jeito que Ele me olhou. Por isso que quis ser Padre e dar a minha vida pela Igreja! Faço isso no meu dia a dia com uma alegria ímpar, porque GOSTO DE SER JESUS DE NOVO!! Tenho essa ousadia, apesar de ser frágil e ter mil defeitos, vivo na ousadia de ser Jesus de novo... ser cristão é isso: ser Jesus de novo na vida do outro!”

quinta-feira, 6 de março de 2008

Saia 'debaixo da mesa'

"Deus não olha para a multidão, Deus olha você. O olhar de Deus não se desviou da sua vida em nenhum instante. Pode ser que hoje você tenha um passado horrível para ser arrumado, talvez você tenha medo de 'sair debaixo da mesa', mas Deus o convida para sair do seu 'cativeiro'"


"Deus só pode alguma coisa em nós quando somos capazes de olhar as situações com amor!"

Pe. Fábio de Melo


Acampamento de cura interior

março/2008